Dia 5: Quando a Vida Parece Estagnada

Os dias passaram e, apesar de tudo, Felipe ainda sentia um peso sobre os ombros. A conversa na cafeteria o fizera refletir, mas o impacto inicial logo foi engolido pela rotina. O relógio continuava girando, e ele continuava no mesmo lugar. As manhãs eram iguais, as noites intermináveis, e os pensamentos voltavam sempre para a mesma questão: e agora?

Naquela manhã de sábado, ao invés de seguir o piloto automático que o levava a tomar café e vagar pelas redes sociais, resolveu fazer algo diferente. Pegou um caderno esquecido na estante e começou a escrever. Não sabia exatamente o quê, mas precisava colocar para fora aquilo que estava entalado dentro dele.

A vida parece um grande looping. Os dias passam, as pessoas seguem em frente, e eu continuo aqui. Esperando. Mas esperando o quê?

Fechou o caderno com força e suspirou. Aquilo não estava ajudando. Precisava sair de casa.

Sem um destino certo, pegou um ônibus e desceu em um bairro que não conhecia bem. Caminhou pelas ruas sem pressa, observando as pessoas indo e vindo, ocupadas com suas próprias vidas. Foi então que notou uma pequena galeria de arte com a porta entreaberta. Algo naquele lugar o atraiu, e ele decidiu entrar.

O interior era silencioso, com paredes brancas e quadros espalhados de forma irregular. Algumas pinturas eram abstratas, outras retratavam cenas do cotidiano. No fundo da sala, uma tela em particular chamou sua atenção: mostrava um homem parado no meio de uma encruzilhada, olhando para todos os lados sem saber qual caminho seguir.

— Gosto desse também — disse uma voz ao seu lado.

Felipe virou-se e viu um homem mais velho, de óculos, que observava o quadro com um meio sorriso.

— Parece que ele está preso — comentou Felipe.

— Ou talvez só esteja pensando no próximo passo. Às vezes, ficamos tão focados em nos sentir estagnados que esquecemos que a decisão de mudar sempre esteve ali, esperando para ser tomada.

Felipe encarou a pintura mais uma vez. A frase fez sentido. Quantas vezes ele próprio se sentira exatamente assim? Esperando que algo externo acontecesse para tirá-lo do lugar, sem perceber que ele mesmo precisava se mover.

Após alguns minutos de silêncio, o homem se afastou, deixando Felipe com seus pensamentos. Decidiu sair da galeria e continuar caminhando. Parou em um banco de praça e abriu novamente seu caderno.

Dessa vez, ao invés de perguntas sem respostas, começou a listar pequenas coisas que poderia fazer para sair da sensação de paralisia. Nada grandioso, nada impossível. Apenas pequenos passos. Mudar de caminho ao voltar para casa. Experimentar um café novo. Puxar conversa com alguém.

Enquanto escrevia, sentiu um pequeno alívio. Pela primeira vez em muito tempo, parecia que estava fazendo algo diferente, nem que fosse apenas olhar para as possibilidades ao invés de lamentar o que não mudava.

A estagnação não era o fim. Era apenas o espaço entre um passo e outro. E talvez, só talvez, estivesse na hora de finalmente começar a andar.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima