
O som do despertador ecoou pelo quarto silencioso. Felipe abriu os olhos devagar, sem pressa, encarando o teto branco com a expressão vazia de quem não tinha motivos urgentes para sair da cama. Era sábado, e como na maioria dos finais de semana, ele não tinha planos. Nenhuma mensagem no celular, nenhuma ligação perdida. Apenas o silêncio.
Se espreguiçou, jogou as pernas para fora da cama e ficou sentado ali por alguns minutos, sentindo o peso invisível que o acompanhava. O peso da solidão. Não era uma novidade, mas também não era algo com que ele tivesse se acostumado completamente. Sempre achava que, em algum momento, as coisas mudariam. Mas os dias passavam e ele continuava do mesmo jeito: preso entre o desejo de mudar e o medo de tentar.
Levantou-se e caminhou até a cozinha, preparando um café sem pressa. A casa estava silenciosa, e esse silêncio não era apenas externo, mas também interno. Ele sentia falta de algo, mas nem sabia ao certo do quê. Pegou a caneca quente e foi até a janela, observando o mundo lá fora. O sol brilhava, as pessoas caminhavam pelas ruas, casais passavam de mãos dadas, grupos de amigos riam de alguma piada interna. Tudo parecia tão distante, tão fora de seu alcance.
“Por que parece tão difícil simplesmente… fazer parte disso?”, pensou, tomando um gole do café.
Felipe não era exatamente solitário por escolha, mas também nunca soube muito bem como sair desse ciclo. Ele gostava de conversar, de conhecer pessoas, mas sempre existia uma barreira invisível, uma voz em sua cabeça dizendo que ele não era interessante o suficiente, que ninguém se importaria se ele estivesse ali ou não. E assim, evitava mandar mensagens, evitava convidar alguém para sair, evitava tentar.
Pegou o celular e abriu as redes sociais. Um erro. As fotos de festas, viagens e encontros só faziam a sensação de vazio crescer. Era um ciclo cruel: ele não fazia nada porque sentia que ninguém se importava, e porque não fazia nada, se convencia ainda mais de que ninguém se importava. Mas era real? Ou era apenas um reflexo das histórias que ele contava a si mesmo?
Suspirou, bloqueando a tela do celular e deixando-o de lado. O dia mal tinha começado e ele já sentia que queria que acabasse.
Foi para a sala e ligou a TV, tentando preencher o silêncio com qualquer coisa. Mas nada prendia sua atenção. O mundo parecia em movimento, enquanto ele continuava estagnado.
Depois de um tempo, se jogou no sofá, encarando o teto mais uma vez. Seu próprio pensamento o incomodava. “Eu não posso continuar assim. Preciso fazer alguma coisa”, murmurou para si mesmo. Mas o quê? O que exatamente ele poderia fazer?
A ideia de sair sozinho o incomodava. Ele sabia que poderia simplesmente ir a um café, dar uma volta no parque, qualquer coisa. Mas só de pensar nisso, sentia um aperto no peito. Como se todas as pessoas ao redor fossem notar sua presença e julgar o fato de que ele estava ali, sem companhia. O que, no fundo, era uma grande bobagem. Ninguém realmente se importava. Mas essa consciência não tornava as coisas mais fáceis.
O dia seguiu assim. Pequenas tentativas frustradas de distrair a mente, de preencher o vazio com algo que fizesse sentido. Mas a verdade é que ele precisava encarar aquilo de frente. Precisava entender que sua vida não ia mudar sozinha. Que a solidão não era uma sentença, mas sim um estado temporário. E que só ele poderia mudá-lo.
Quando a noite caiu, Felipe tomou um banho e vestiu uma roupa confortável. Sentou-se na cama, pegou o celular e, pela primeira vez em muito tempo, digitou uma mensagem para um amigo que não via havia meses. Algo simples, apenas um “Oi, como você está?”. Nada grandioso, mas era um começo.
Talvez não fosse naquele momento que tudo mudaria, mas ele sabia que precisava dar pequenos passos. Porque, no fim, a solidão só se tornaria permanente se ele permitisse.
Felipe bloqueou a tela do celular, respirou fundo e fechou os olhos. Amanhã seria um novo dia. E quem sabe, aos poucos, ele aprenderia a fazer parte do mundo de novo.