Capítulo 3: Felipe e seu propósito

Felipe caminhava sem rumo pelas ruas, ainda sentindo o peso da conversa que teve consigo mesmo naquela noite. O frio da madrugada já não parecia tão intenso quanto antes, mas algo dentro dele continuava inquieto. Desde que saiu da cafeteria, uma pergunta ecoava na sua mente: e agora?

Encontrar seu propósito na vida. Era um pensamento grande demais, abstrato demais. Como se fosse uma dessas frases motivacionais que as pessoas postam nas redes sociais, mas que no fundo ninguém sabe exatamente como alcançar. Ele sabia que queria algo mais para si, mas ainda não tinha ideia de por onde começar.

Passando em frente a uma praça, avistou um banco vazio e decidiu sentar. De longe, observava algumas poucas pessoas que ainda circulavam pela cidade àquela hora. Uma senhora alimentava gatos de rua, um casal conversava baixo em um canto, e um homem solitário fumava um cigarro enquanto encarava o nada. Felipe se viu naquele homem. Quantas vezes ele também não tinha ficado assim? Perdido em pensamentos, esperando que algo simplesmente mudasse em sua vida sem que ele precisasse agir?

Ele suspirou e passou as mãos pelos cabelos. Sentia-se cansado, mas não fisicamente. Era um cansaço diferente, que parecia ter se acumulado ao longo dos anos. Um cansaço da própria existência.

Foi quando ouviu uma voz próxima.

— Está tudo bem com você?

Felipe levantou os olhos e viu um senhor de idade, provavelmente na casa dos setenta anos, o observando com um olhar curioso. Ele vestia um casaco surrado e segurava um saquinho de pão nas mãos. Felipe hesitou antes de responder.

— Sim… só estava pensando.

O senhor sorriu e se sentou ao seu lado, abrindo o saco de pão e tirando um pedaço para si. Ele mastigou devagar antes de falar novamente.

— Pensar demais pode ser perigoso, garoto. Já estive aí onde você está, sabe? Olhando para o nada, esperando que a vida me dissesse o que fazer.

Felipe ergueu uma sobrancelha. Algo naquela frase lhe atingiu em cheio.

— E ela te disse? — perguntou, tentando esconder o tom de ceticismo.

O homem riu baixinho.

— Ah, não. A vida não entrega respostas assim, de graça. Mas ela dá sinais. O problema é que a gente passa tanto tempo preso dentro da própria cabeça que não percebe o que está ao nosso redor.

Felipe ficou em silêncio, refletindo sobre aquilo. Quantas oportunidades ele já tinha ignorado por estar preso demais em seus próprios pensamentos? Quantas respostas ele já poderia ter encontrado se tivesse prestado mais atenção ao que a vida estava tentando lhe mostrar?

O senhor terminou seu pedaço de pão, limpou as migalhas da roupa e se levantou.

— A vida não tem um manual de instruções, garoto. Mas se você parar para observar, ela sempre encontra um jeito de te dar uma dica do próximo passo. Só não espere encontrar tudo de uma vez. Propósito não é algo que se descobre, é algo que se constrói.

Felipe apenas assentiu, sem saber muito bem o que responder. Ele viu o homem se afastar até sumir na esquina, deixando-o sozinho novamente. Mas, dessa vez, algo dentro dele parecia diferente. Como se uma pequena faísca tivesse sido acesa.

Ele não tinha todas as respostas. Não fazia ideia de qual era seu propósito. Mas talvez, só talvez, ele pudesse começar prestando mais atenção aos sinais ao seu redor.

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