
Felipe caminhava pelas ruas silenciosas da cidade, ainda processando as palavras do senhor que encontrara na praça na noite anterior. “A vida sempre dá sinais”, ele havia dito. Mas que sinais eram esses? Como identificar algo que parecia tão abstrato?
As luzes dos postes projetavam sombras compridas no asfalto, e o vento frio da madrugada bagunçava seu cabelo. Ele pensava sobre propósito, felicidade, e sobre como muitas pessoas sentiam que estavam perdidas na vida. “Como encontrar meu propósito?”, ele se perguntou. Quantas vezes já tinha pesquisado essa frase no Google, buscando respostas que nunca pareciam concretas?
Felipe decidiu parar em uma cafeteria 24 horas. O cheiro de café fresco e pão quentinho preencheu seus sentidos assim que entrou. Ele pediu um expresso duplo e escolheu uma mesa perto da janela. Pegou o celular e, quase sem perceber, abriu o navegador e digitou: “Como encontrar um propósito na vida?”. Os resultados eram os mesmos de sempre: “Descubra sua paixão”, “Faça o que ama”, “Saia da sua zona de conforto”. Mas nada daquilo parecia aplicável à sua realidade.
Foi então que algo diferente chamou sua atenção. Em um dos textos que abriu, uma frase ficou ecoando em sua mente: *Seu propósito não é algo que você encontra, mas algo que você constrói, um dia de cada vez.*
Ele tomou um gole do café e olhou ao redor. Será que ele estava esperando por uma grande revelação quando, na verdade, deveria estar prestando atenção nas pequenas coisas? Será que seu propósito poderia estar em algo que já fazia, mas nunca havia notado? Felipe suspirou. Ainda não sabia a resposta, mas aquela ideia parecia mais realista do que qualquer outra que já tinha lido.
Enquanto mexia distraidamente na colher do café, uma mulher na mesa ao lado chamou sua atenção. Ela parecia aflita, olhando para um caderno cheio de anotações. Estava tão imersa em seus próprios pensamentos que nem percebeu quando um lápis caiu no chão. Felipe se abaixou e pegou o lápis, entregando a ela.
— Obrigada… — ela disse, sorrindo, mas logo voltou a encarar o caderno, visivelmente preocupada.
Felipe hesitou por um momento antes de falar.
— Está tudo bem?
A mulher olhou para ele, surpresa. Havia um certo cansaço em seus olhos, mas também um alívio por alguém ter notado.
— Na verdade, não muito. Estou tentando escrever um artigo sobre propósito de vida, mas parece que nada faz sentido — ela riu de nervoso. — Engraçado, né? Como falar sobre algo que nem eu mesma sei direito o que significa?
Felipe soltou uma risada baixa. O universo, aparentemente, tinha um senso de humor peculiar.
— Acho que entendo bem o que você quer dizer — ele respondeu.
A conversa começou tímida, mas logo os dois estavam trocando histórias sobre momentos em que se sentiram perdidos. Felipe se deu conta de algo curioso: conversar sobre suas incertezas com alguém que também tinha dúvidas fazia tudo parecer menos pesado. Pela primeira vez em muito tempo, ele se sentiu conectado com alguém de verdade.
Quando a conversa terminou, a mulher agradeceu.
— Acho que isso me ajudou mais do que qualquer pesquisa que eu fiz. Obrigada por ouvir. Às vezes, só precisamos de alguém que entenda.
Felipe sorriu. Talvez esse fosse um dos sinais que a vida estava tentando lhe mostrar: que seu propósito não precisava ser algo grandioso ou distante. Talvez estivesse nas pequenas conexões que fazia pelo caminho.
Naquela noite, ele saiu da cafeteria com um novo pensamento. Se ele queria encontrar um propósito, precisava começar prestando mais atenção às pequenas coisas. Às pessoas. Às oportunidades de fazer a diferença, por menor que fosse.
E, principalmente, precisava parar de esperar que a vida lhe desse respostas prontas. Talvez, o caminho fosse feito caminhando.