
Felipe encarava o espelho do banheiro com a testa franzida. O reflexo diante dele parecia o mesmo de sempre, mas, ao mesmo tempo, algo estava diferente. Ele passou a mão pelo rosto, como se quisesse tocar a verdade que se escondia ali. Os olhos cansados denunciavam as noites em claro, os pensamentos inquietos e as perguntas sem resposta.
Nos últimos dias, a sensação de vazio havia se intensificado. Ele sentia que estava vivendo no piloto automático, seguindo uma rotina que não fazia sentido algum. O que ele realmente queria? O que estava fazendo com a própria vida? Por que sentia que, por mais que tentasse, nunca era suficiente?
Essas perguntas ecoavam em sua mente enquanto ele saía do banheiro e se jogava no sofá. Pegou o celular, rolou o feed das redes sociais e viu rostos sorridentes, viagens incríveis, conquistas profissionais. Tudo parecia perfeito demais. Uma pontada de frustração apertou seu peito. Ele sabia que aquilo era apenas uma versão editada da realidade, mas, ainda assim, não conseguia evitar a comparação.
Felipe se levantou de repente. Precisava sair dali, respirar, sentir o mundo ao seu redor. Vestiu o primeiro casaco que encontrou e caminhou até a praça mais próxima. O ar frio da noite lhe deu um choque de realidade. Sentou-se em um dos bancos e observou as pessoas passando, cada uma com sua própria história, seus próprios dilemas.
Foi então que seus olhos pousaram em um homem idoso sentado a poucos metros dele. O senhor olhava para o nada, perdido em pensamentos. Havia algo em sua expressão que chamou a atenção de Felipe — um misto de saudade e resignação.
Sem pensar muito, ele se aproximou e sentou ao lado do homem. Ficaram em silêncio por alguns instantes, até que o idoso, sem tirar os olhos do horizonte, disse:
— Você já sentiu como se estivesse preso dentro de si mesmo?
Felipe ficou surpreso com a pergunta, mas sorriu de canto. Era exatamente assim que se sentia.
— Todos os dias — respondeu.
O homem soltou um suspiro profundo.
— Passei a vida toda tentando entender quem eu era… e só agora percebo que a resposta sempre esteve aqui — ele tocou o próprio peito. — Mas a gente perde tanto tempo tentando ser o que esperam de nós que esquecemos de olhar para dentro.
Felipe sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Aquela conversa aleatória em uma praça parecia carregar um peso que ele não sabia explicar. Como se, de alguma forma, o universo estivesse tentando lhe dizer algo.
O silêncio se instalou novamente, mas dessa vez parecia confortável. Felipe olhou para o céu estrelado e sentiu que, talvez, estivesse no caminho certo. Talvez a resposta para tudo não estivesse em encontrar um propósito grandioso, mas em aprender a ouvir a si mesmo.
E, pela primeira vez em muito tempo, ele não sentiu medo do que o espelho poderia lhe mostrar.